[C] Fenômenos

Fenômenos um tanto quanto incomuns têm incomodado os moradores de Kirigakure. Durante a noite, barulhos estranhos que vêm incomodando toda a vizinhança e fazendo com que as pessoas não consigam dormir direito. Alguns menos céticos dizem ser espíritos da noite, mas as Forças Regulares acreditam que seja algum tipo de pegadinha infantil. De qualquer modo, se tornou uma obrigação a averiguação dos fatos, para que os moradores possam dormir melhor.

Um jovem ágil e que tivesse um mínimo de experiência com combates seria chamado para a situação. Dentre os escolhidos, Kaguya Yoshiaki foi indicado como a melhor opção para aquela situação incomum. Uma carta foi enviada à ele, ainda pela tarde; assim, ele poderia se preparar para os acontecimentos. O bairro indicado ficava ao sul de Kirigakure, um lugar de classe-média, onde a neblina era densa pela noite; bom, diga-se que toda Kirigakure é assim, porém, aquele local era ainda mais que o normal.  

Hoje, mais uma muda de roupas, rasgadas em estranhos padrões equidistantes, se encontravam largadas e emboladas num canto do meu quitinete. Enquanto encarava-as, eu tentava relembrar e revisitar o sonho da noite passada, cujo o impressionante efeito me levara a espetar para fora alguns dos meus ossos, perfurando assim os trajes. O sonho trazia a tona os fantasmas do meu misterioso passado, e isso já era rotineiro. Mas acontece que de um tempo para cá, eu comecei a ter esse probleminha com as roupas, e se a coisa continuasse, daqui a umas semanas eu não teria nem mais uma calças para sair. Cocei a cabeça.

De repente, um ruído vindo da porta me tirou daquele estado pasmado, e ao tornar o rosto na direção dela, notei no mesmo instante um pedaço de papel que entrou furtivo pela fresta. Corri para pega-lo. Era uma convocação oficial. No papel rezava todas as informações proveniente a missão, e eu, com olhos espremidos, do mesmo jeito que eu sempre faço quando tento memorizar bem o que leio, olhava tudo com calma para não perder nenhum detalhe. O local eu conhecia, já tinha ido lá uma ou duas vezes. E o horário da tarefa era à noite, ocasião em que tais fenômenos estranhos vinham acontecendo.

Fui a passos constantes e tranquilos até lá e antes que anoitecesse já havia percorrido todo o trajeto. Tentei buscar um local alto e central que me pudesse ser estrategicamente vantajoso a observar e sobretudo escutar, já que aquele nevoeiro era especialmente denso nessa região, podendo suscitar até mesmo um ar de mistério ou fantasia. A noite, enfim, chegava, e eu me mantinha com os sentidos à espreita e em posição furtiva; talvez em cima de uma árvore ou usando uma alta construção como cobertura.

Informações:

Equipamentos (20/35):

Ao anoitecer, o jovem Kaguya já estaria no local e, sobre um posto de vigilância ou, melhor dizendo, uma casa. Ficou atento às mudanças; uma busca por tais fenômenos. O tempo parecia passar devagar, apenas o som das águas era ouvido e, vez ou outra, uma voz. Ainda era cedo e parecia que nada se desenrolaria naquele horário. O rapaz deveria ser paciente e, nesse caso, ficar atento à todo momento era a principal chave para o sucesso da missão. Ainda que sua visão não conseguisse alcançar muito longe, o silencio poderia ser um aliado.

Havia mais de uma hora que eu estava ali, em cima de uma moradia que me servia de guarita, vigiando as movimentações daquele bairro que não conhecia a secura. O nevoeiro era denso de impressionar até mesmo um nativo, como eu. Mesmo eu. Em pensar quantos dias, quantas noites eu passei ao relento, apanhando sereno, acompanhado apenas pelos meus amigos que..., se foram.

Velhos sentimentos me vieram em turbilhão num átimo. Era o meu inexorável propósito de descobrir o meu passado. Fechei os punhos bem apertados. A tenção muscular era canalizada a consciência do momento presente. E nesta ocasião, de vigilância e investigação com baixa visibilidade, boa parte da minha atenção reservava-se a captar minuciosamente os ruídos da natureza, que eram raramente intercalados por vozes longínquas.

Noutro instante eu já começava a pensar em diferentes hipóteses, que iam do verossímil até o cômico. E confesso que cheguei a suspeitar de que tudo isso seria apenas uma grande armação com o único intuito de me fazer de palhaço. Desde o pergaminho até a escolha de um local entediante. Imagine! Não. Isso é loucura. Com o tempo eu fui percebendo que aquele tédio estava começando a afetar a minha sanidade. Cada minuto era uma eternidade e o som da minha própria respiração me parecia extremamente barulhenta, pois o silêncio do local era quase que bucólico. De tempos em tempos o meu corpo me exigia movimento, atividade, mas a única coisa que eu podia lhe permitir eram alguns curtos e esparsos exercícios de alongamento e mobilidade.

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O tempo passou e nada aconteceu até a madrugada. Em dado momento, o rangir das madeiras das casas começaram a ficar mais fortes; as águas se deslocaram rapidamente, numa bruta mudança de maré. Os animais ficaram agitados e eram possível ouvir o miar dos gatos e latir dos cães. Era algo incomum, como dito na descrição da missão, entretanto, o nevoeiro começou a diminuir gradativamente, como se estivesse se dispersando. Algo parecia acontecer ali.

O sereno da madrugada chegava com a sua sutileza característica, assinalando o longo período de tempo que se prolongava além do esperado. Eu me mantinha à espreita naquela cobertura, ficando de emboscada e colhendo informações, como um caçador. Porém, até agora não tinha visto nada de relevante e o tédio era o meu maior inimigo até então. Eu buscava paciência para resistir a todo o decurso de horas inteiras a fio sem respiro nem pestanejo, e sem perder de vista o objetivo da missão.

Contudo, de repente, do meu ponto de vista, a leve brisa aumentava, aparentemente, e junto com o uivo do vento aconteciam novos ruídos. Era cachorro latindo, gato miando, o mar reverberando toda a sua potência oceânica, e tudo o mais que a natureza dispunha na região, em termos de emissão sonora. A mudança na localidade era brusca e contrastante. Antes o clima era de um bucolismo provincial, e subitamente, algo de novo e misterioso acontecia e eu não saberia dizer a causa.

— Que há? Que há de novo? pensava, ansioso de saber, ávido por novidade.

Os meus olhos esbugalhados denotavam a minha vigilância e concentração para tentar entender o que estava acontecendo, com aplicação cuidadosa do espírito. E tal circunstância me pareceu com tanta importância que eu me pus à postos e em pé, chegando a arquear levemente os joelhos para assumir uma postura favorável a uma movimentação ligeira e repentina.

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Equipamentos (20/35):

Os fenômenos eram nítidos e o rapaz podia perceber isso. O problema era a causa. Nada saltava seus olhos naquele momento e a única coisa que poderia fazer era vigiar atentamente. O som da madeira aumentou, dessa vez, pareciam passos correndo. Alguem havia percebido ele ali? Ele poderia seguir os passos, mas tinha que tomar cuidado, sua percepção estava afetada por todos aqueles fenômenos.

O burburinho crescente me aturdia. E do alvoroço, do rebuliço e do farfalhar, eu pude perceber mais um ruído: uns estalados de madeira que formavam um padrão similar a passos de alguém correndo. Eu não consegui diferenciar se aquilo tudo era causado simplesmente por uma tempestade recém-chegada ou por um ataque iminente. Seria o tempo virando, ou algo gerado pela ação humana? Aqueles sons que se assemelhavam a passos me fizeram acreditar na segunda hipótese. E se for alguém, será que ele pode me ver? Estou exposto ao inimigo. Daquela posição em que estava eu comecei a me sentir como se fosse apenas um joguete das ondas e dos ventos, vogando ao sabor da corrente. Chega. Eu estava inquieto, agitado, e talvez isso que me impedisse de perceber o quê é que estava acontecendo.

Num impulso repentino, manejei o meu corpo aos saltos, ziguezagueando desde lá de cima, aproveitando os pontos de apoio das construções, de um para outro lado, pendularmente, até aterrissar em solo firme. A minha intenção era a de me livrar daquele sentimento de impotência perante um misterioso inimigo que me tem como presa fácil. É preciso confessar também que eu cheguei a cogitar a fuga. Escolher uma reta e sair correndo. Todavia, obviamente, isso não passou de um daqueles pensamentos fugazes e absurdos que poderiam brotar na cabeça de qualquer um, mesmo até dos grandes ninjas. Porque a vontade de concluir a missão era muito mais forte e estava muito mais consolidada na minha mente. Portanto, esta manobra foi antes de tudo, um recurso estratégico, uma tática, na tentativa tenaz de me colocar em uma posição mais vantajosa.

— Psiu! Seja lá quem for, apareça! bravejei bruscamente de improviso. Estava de radar ligado aplicando os cinco sentidos ao meu redor com muita atenção.

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O jovem estava inquieto e não era por menos, aqueles fenômenos por si só, já eram impressionantes, agora, uma presença parecia circunda-lo. Ele tentou chamar a atenção daquela pessoa, porém, naquele momento, o silêncio reinou. O Kaguya nesse instante, já não podia ver muita coisa; a névoa ficou mais densa. Foi quando o som voltou a reverberar. Dessa ver, alto o suficiente para o jovem deduzir a direção que vinha e, através do conhecimento prévio do local, prever seu destino. Ele parecia ir em direção ao cais, provavelmente, até algum barco.

A minha tentativa de chamar a atenção do misterioso inimigo, para fazê-lo revelar a sua posição, não pareceu ser útil. Sua resposta foi o silêncio. Parecia que ele estava mais propenso a ação do que as palavras. E para piorar, a névoa se adensava, prejudicando ainda mais a minha visibilidade. Instantes após aquela breve hesitação, sucedeu uma reverberação proveniente de sua movimentação, da qual, apenas agora, eu pude ter alguma pista que me indicava a sua localidade aproximada e, para onde estava indo, se a minha audição não estivesse equivocada.

Ato contínuo, disparei-me no sentido que as minhas orelhas orientavam, em busca da minha mais nova presa. E esse era o caminho do cais. Eu tentava ir, não na minha máxima velocidade, mas num ritmo moderado, que me fizesse não perde-lo de vista, e nem me fizesse perder o fôlego desnecessariamente. As informações que eu tinha recebido mais cedo, do pergaminho oficial daquela missão, me vinham a mente num instante. Eu ainda não sabia quem era esse indivíduo que estava causando esse alvoroço todo, mas era, provavelmente, alguém com más intenções, um ladrão. Quem sabe?

O meu plano era simples, tentar encurrala-lo no litoral, que é um ponto sem saída a pé pelo menos. E a partir daí, confrontá-lo. O problema seria se ele inventasse de saltar num barco e saísse navegando-o em fuga. Aí ia complicar um pouco. Eu teria que, talvez, usar os meus ossos das pontas dos dedos — as chamadas falanges distais — e atirá-las mirando, provavelmente, no casco da embarcação, caso ele não se rendesse.

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O jovem Kaguya perseguia o suspeito que, num ato de fuga, saltou num barco, buscando sair dali. Entretanto, um ataque foi executado no casco da embarcação, fazendo-a afundar. A pessoa agarrou-se ao cais, desesperado, ficou de frente ao jovem que lhe buscava e, diante a desvantagem se rendeu. — Não me machuque, por favor. — Era um garoto, cerca de oito anos. A névoa começava a dissipar e os sons pararam de ecoar, seja lá qual fosse o motivo. O Kaguya tinha em mãos o suspeito e, talvez, uma prova. Qual a ligação do rapaz com a névoa? Poderia perguntar para saber.

O barco afundou rapidamente após eu alveja-lo com os meus ossos, e o suspeito chegou ao fim da linha. Este mesmo que veio nadando em desespero até o cais, onde eu estava, se aproximou em frente a mim e suplicou a sua rendição. Quando os meus olhos, enfim, identificaram com precisão o suspeito, reagi com enorme surpresa.

— Mas o que?... Uma criança?! pensei, franzindo o cenho. Neste momento eu fui envolvido por um forte sentimento de aversão ao que eu tinha acabado de fazer. Eu atirei na embarcação, mas poderia ter acertado esse pobre garoto.

Ademais, o seu aparente estado de desamparo, de desespero e de miséria funcionou como uma espécie de espelho cujo reflexo era eu mesmo quando criança, vivendo a minha orfandade. Esta imagem me sensibilizou, me afetou bem no meu ponto fraco: o meu coração mole. No instante seguinte eu estendi a mão ao menino para ajudá-lo a sair da água.

— Está tudo bem. Venha logo, deixe-me ajuda-lo a subir. falei, tentando esboçar uma fisionomia mais amistosa que me era possível.

Todos aqueles barulhos cediam, surpreendentemente, e junto a isso, a névoa abrandava. Eu estava lidando com um mistério ainda sem solução. Qual a ligação desta criança com isso tudo? Eu não fazia ideia. E era isso o que eu queria saber quando tentei aborda-lo, assim que ele estivesse em condições de falar.

— Fique tranquilo, garoto. Eu estou aqui para protegê-lo. Mas, para isso, eu necessito entender algumas coisas. Será que você poderia me ajudar? Primeiramente, eu queria me desculpar por tê-lo jogado na água. Acredita que eu confundi você com um ladrão? E sabe por quê? Porque há muitas queixas de moradores acerca desses barulhos e tal. A essa hora da madrugada... Será que você saberia me dizer alguma coisa em relação a isso?...

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Jutsu:

O garoto estava assustado, então, acabou por confessar o que fazia ali. — E-eu aprendi genjutsu, moço... era só uma brincadeira. — Era ele, de algum modo e quando o Kaguya o capturou a ilusão havia sido dissipada espontaneamente. — Eu só quis assustar o pessoal, para eles acharem que tinha espíritos aqui. Eu também moro aqui, com meus pais. — Apontou na direção.

Enquanto o garoto respondia às minhas perguntas eu o observava com um olhar fraterno e afável, tentando passar um ar acolhedor; com educação, cortesia e gentileza. Porém, as suas respostas me davam também pequenas e comedidas expressões de surpresa, e me colocavam num estado amistoso e de reflexão: Genjutsu... Então foi isso... pensei admirado, ao constatar a minha total inabilidade de perceber isso antes. — Parece que esse garoto tem grande talento pra coisa... conclui esboçando um discreto sorriso. Agachei-me para ficar na mesma altura dele.

— Escute, garoto. Você tem bastante talento para a sua idade, sabia? Porque você não aparece na academia ninja um dia desses? Lá você poderá usar e aprender várias técnicas e artes ninja e eu acho que você vai gostar disso...  E o melhor de tudo é que você não vai ser confundido com bandidos e nem vão te jogar na água por isso.

Estiquei o meu braço vagarosamente, e com a mão aberta e relaxada afaguei a pequena cabeça do menino, balançando e remexendo o seu cabelo molhado, em sinal de troça e com um olhar que passava encorajamento.

— Agora vai para casa, moleque. Antes que eu mude de ideia e te leve preso. disse, mudando subitamente o tom sereno para um sério e ameaçador.

Ato contínuo, me despedi com um espírito jovial, demonstrando um sorriso irônico; levantei-me, dei meia volta e me retirei do local a passos firmes rumando a estação de missões. Lá chegando, eu me apresentaria a um oficial superior visando reportar o relatório da missão realizada.

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