[Treino] Dreams come true?

Sonhos podem se tornar realidade? Não me entenda mal, não estou perguntando sobre metas pessoais que nomeamos sonhos, mas sim sobre os sonhos que nos atormentam nas noites mais profundas transformados em pesadelos e nas noites mais prazerosas transformadas em excitação. É uma dúvida recorrente, quantas vezes já sonhamos com algo que juramos já ter vivido ou vivemos algo que juramos já ter sonhado? Para Miyuki, que é apenas uma criança inocente, o sonho era apenas um sonho, as vezes de forma mais cruel que lhe deixa inquieta o restante o dia, como o som da tempestade, dos gritos e brigas de um casal desconhecido ou reconfortantes, com a calmaria do canto de uma mulher desconhecida que lhe visitava somente a noite, com suas mãos gélidas e sorriso iluminado, mas de face irreconhecível, pois dela apenas emanava um brilho de dúvida.

A genin sempre parecia ter um certo controle sobre seus sonhos, era como se vivesse eles, mas quase sempre estava numa situação onde era frágil demais para ver ou fazer algo. Essa noite não seria prazerosa, Miyuki demorou cerca de quase uma hora para conseguir cair no sono, estava receosa, ansiosa, mas não sabia exatamente o motivo, era normal que um sentimento de angustia viessem anteriormente ao sono, mas, naquela noite em especifico, era como se a menina previsse seus sonhos, ou melhor, pesadelos.

Demorou, mas adormeceu e, diga-se de passagem, de forma profunda assim que os olhos deixaram de pesar e o corpo relaxou. No início apenas um breu completo, era como se a menina tivesse num lugar apertado, talvez um armário ou algo do tipo, apenas algumas fagulhas de luz passavam pelos buracos e, um pouco na ponta, uma luz finíssima fazia uma linha, como se fosse uma porta entreaberta.

Miyuki conseguia se mexer e, por isso, resolveu que deveria, sem entender o que acontecia apenas andou normalmente rumo a porta e abriu. Não foi a melhor das decisões, a cena em que seu sonho era atemorizante, por algum motivo não conseguia ouvir os gritos quando a porta estava fechada, mas agora, ouvia a mulher que em outras noites cantarolava para ela gritar implorando pela própria vida e, ao ver a garota, implorando para que a menina corresse, que fosse embora.

Um pouco ao lado um corpo estirado no chão, o vermelho escorrendo por debaixo e formando uma poça claramente era sangue e, um pouco mais ao seu lado dois homens, encapuzados, com uma bandana em suas testas, mas a ninja não conseguia, de forma alguma, ver o símbolo do vilarejo que aquela bandana marcava.

Sua primeira reação foi paralisar, estagnou-se como pedra, tomada pelo medo da cena, mas os incansáveis gritos da mulher pareciam lutar para trazer a menina de volta a realidade. Um dos mascarados virou-se e, com sua boca amostra, sorriu em direção a garota, vindo em sua direção.

Corra!

Ouviu mais uma vez o suplicar da mulher, o grito invadiu seus ouvidos de maneira tão desesperadora que a menina retomou a consciência do seu próprio corpo, mesmo que em sonho. O homem já estendia o braço para lhe segurar quando o corpo da menina se mexeu em resposta, com a pouca agilidade que tinha, mas suficiente para que o homem não fosse capaz de lhe capturar. Começou a correr em direção contrária ao do outro homem, movendo-se para trás, mas não sabia para onde deveria ir, não conhecia aquele lugar, aquela casa. Viu uma escada e foi em sua direção, mesmo sem uma saída fácil, seria um caminho onde lhe levaria para fora da visão dos homens.

Enquanto subia as escadas atentou-se a um som, e, faltando um passo para que chegasse ao topo viu o vulto mexesse a sua frente —— Mais um?! —— questionou-se, dando um recuo para trás imediatamente, retornando alguns degraus e pulando em meio a escada. A mulher, antes no chão, agora estava em pé ao seu lado, ela tocou uma última vez com suas mãos gélidas na cabeça de Miyuki e deixou que o sorriso iluminado saísse uma última vez —— Fuja. —— disse, não mais em prantos, mas num tom tão calmo que conseguia diminuir a aflição de Miyuki.

Mesmo em sonho, tudo parecia mais frio, mais gélido e, logo do chão brotou os cristalinos espinhos de gelo, formando barreiras na direção de todos os três bandidos que Miyuki avistava, uma fagulha de tempo tinha sido ganha com aquilo e menina entendia o que devia fazer, mesmo que toda sua consciência gritasse para que ficasse, para que fizesse algo, seu coração implorava para que corresse e, ouviu-o.

Correu o mais rápido que pode, o bandido mais acima buscou uma kunai em seu bolso rapidamente e por cima da barreira de gelo jogou-a contra Miyuki, a ninja sabia do perigo do objeto, mas o detectou segundos antes, girando o corpo levemente para o lado e deixando a pequena arma passar adiante. No entanto, foi ainda mais esperta ao notar a pequena fagulha explosiva em seu limite, agiu rapidamente, arriscando-se e tomando a kunai do chão e a jogando para cima, em direção ao outro bandido e voltando a correr.

Viu a porta a sua frente e a atravessou, ouvindo naquele momento o som da explosão e a fumaça percorrer toda a direção. Não escutava mais gritos, apenas um fino barulho dos ouvidos que agora recuperavam-se do som da explosão tão próxima, lagrimas corriam de seus olhos assustados mesmo que não entendesse o que verdadeiramente se passava.

Voltou a correr, sem olhar para trás, apenas se culpando cada vez mais por não fazer nada, era inevitável, aqueles dois tinham morrido, mas quem eram eles? O que estava fazendo ali? Não conseguia entender. Para onde deveria ir? Olhou adiante e apenas viu uma grande neblina cercar redondos prédios por toda a direção, aquele lugar era diferente de tudo que já tinha visto antes, não estava em Konoha, mas não sabia onde estava, só sabia se perguntar para onde deveria ir agora.

De súbito despertou, ofegante, chorosa e tremendo-se por inteira. Sentia um toque quente lhe envolver, mas não era como nos dos sonhos, sabia que era real e, ao olhar para cima, mesmo com medo, aliviou-se ao ver sua mãe lhe envolver em seus braços —— Está tudo bem agora, Miyuki-san. —— disse a mulher, confortando e acalmando a filha.

Considerações: