[SOLO] A passagem do Bastão

O vilarejo estava em festa. A notícia que corria de que o grande mestre do Bõjutsu, Amari Minoru, se aposentaria, deixou a comunidade de Konohagakure no Sato bastante comovida, e ele fazia por merecer o desejo de boa sorte das pessoas. Na contramão, eu havia recebido aquela notícia com muito pesar, a de que meu mestre e o grande responsável por ter agido como minha figura paterna, aquele que me acompanhou desde minha infância estava se aposentando, caiu como um baque no meu colo. Só de imaginar que não teríamos mais aquela troca de experiências, as conversas jogadas ao léu depois das missões e os embates em que terminavam nossas discussões, me deixavam bastante receoso. Eu havia evoluído bastante nos últimos meses e esperava que com ele ali ao meu lado a tendência era crescer ainda mais.

Comumente quando eu chegava ao Dojo do meu mestre eu realizava uma mesura completa em sinal de respeito antes de adentrá-lo, afinal estamos falando do lugar em que eu aprendi sobre o respeito, inúmeros aprendizados e desenvolvi os meus aspectos morais, e como tal, aquela era uma regra até que fácil de atender. Mas hoje é um dia diferente e pela primeira vez em meus 17 anos de idade eu não havia adotado esse meu cumprimento. — Heeeeey! — Apresentava-me em um tom agressivo. — Onde você se enfiou seu velho idiota! — Como um turrão que ele era não demoraria muito a responder aquela ofensa da minha parte. — Estou aqui para bater na sua cabeça com o meu bastão até que você desista da ideia da aposentadoria. — Nesse instante eu me armava com o meu bastão, pegando-o das minhas costas e o girando entre os vãos dos dedos da minha mão direita, unindo-a com minha mão esquerda no comprimento do centro do meu peito e passando para a mão esquerda, repetindo o movimento feito com a mão direita.

Dirigia-me então até o centro do tatame, entre cada uma das oito colunas marmoreais que iluminavam o nível inferior daquele Dojo. As incontáveis pedras preciosas no teto dançavam na luz cintilante enquanto estátuas e ícones de mármore com o símbolo daquela academia de artes marciais nos encaravam de cima para baixo. Se bem me lembro, aquele homem acostumava aprontar algumas peripécias e plantar armadilhas em seu Dojo, então estar esperto o suficiente nunca era demais. Por outro lado eu estava magoado e com raiva, o que poderia prejudicar o meu desempenho, mas o mais assustador é que eu conseguia vislumbrar minha imagem na infância, como uma aura, ainda em seus primeiros passos naquele Dojo.
 

Considerações:

A cena que eu assistia era do meu eu ainda criança com um bastão de madeira para iniciantes fazendo os primeiros movimentos com aquela arma e ao fundo Minoru assistia com os braços cruzados na altura do peito e refletia silenciosamente com os olhos sobre as correções que deveriam ser feitas. Então o mestre no outro extremo do tatame iniciou a travessia e parou em minha frente. — Acorde. — Sussurrava. Com a sua ordem, os personagens daquela cena se dissolveram no ar e eu retomei o controle.

[...]

Quando eu voltei a si, pude observar vindo por todas as direções o que eram dezenas de finas agulhas lançadas de dispositivos escondidos da boca de uma arte em formato de leão espalhadas pelas oito colunas marmoreais. Prontamente realizei uma varredura circular com o bastão, colocando uma dobra lateral esquerda na mão direita de apoio, suficiente para criar uma breve incidência de ar e sobrepujá-las. Não satisfeitos, a primeira camada do tatame abriu trazendo em sua segunda camada um terreno tortuoso repleto de Makibishis. Aquele era um método de treinamento bastante comum na academia de Minoru, onde ele usava do que costumava nomear de "A queda do Elefante." para submeter aos alunos, então era algo que eu já estava familiarizado. A verdadeira forma de vencer aqueles obstáculos era redobrar a atenção aos movimentos e não arrastar a sola dos pés, mas usá-los em recuo com a parte de dentro dos pés ao caminhar pelo chão.

Está atrasado, como sempre. — Dizia uma voz vinda do andar superior do Dojo, com o tatame retornando ao seu estado normal. Logo um vulto ocorreu e aquela familiar dupla estava no meu andar. Ao lado do nosso mestre estava Chiba Raira e a minha maior rival dentro daquela academia. Dividíamos a concorrência e oscilávamos entre o primeiro e segundo lugar dos melhores alunos. — A partir da minha aposentadoria, Raira virá a me substituir como o mestre dessa academia. Espero que você a ajude nessa nova jornada de nossas vidas, Garoto. — As frequentes surras que o meu pai costumava me dar não foram mais dolorosas do que as palavras do mestre. — Está ficando louco, velhote? Todos sabem que eu sou o maior protagonista dessa academia. A liderança dessa academia é por direito minha. — Questionei. — Essa é a minha decisão e eu espero que você respeite. — Sua voz parecia carregar um sentimento de tristeza, enquanto no rosto da minha rival um escancarado deboche.

Tenho certeza que eu conseguirei me dedicar inteiramente a essa tarefa, e você pode colaborar comigo sempre que eu solicitar, Garoto. — Disse Raira, colocando em dúvida a minha participação no novo projeto aqui apresentado. — S-s-sempre que você solicitar?! Viu só, ela já está me excluindo das decisões. — Rebati, apontando o dedo para sua cara e com as pernas espaçadas. — Velhote, eu vou fazê-lo voltar atrás em sua decisão. Eu desafio Chiba Raira para provar que o meu estilo de luta é o mais forte. — Dansu, Sutikku era um estilo de luta que eu estava desenvolvendo já há algum tempo, usando o conceito aplicado por Minoru e adicionando elementos novos como a minha força bruta e um combate era tudo o que eu mais precisava para garantir a sua eficácia.

Nosso mestre até esboçou recusar o convite, mas como um grande convencido que era - admito que nessa disputa eu também não fique muito atrás - Raira não poderia não aceitar o meu convite. Assim sendo, restava agora me aquecer e aguardar que o tatame fosse preparado para suportar o combate.  
 

Considerações:

O duelo estava para iniciar quando as portas do Dojo se abriram. Um velho careca arqueando, na casa dos um metro e cinquenta de altura e beirando os setenta e poucos anos adentrava a academia acompanhado de dois fortes seguranças, também carecas e com óculos escudos, com terno social roxo e gravata preta. — Mestre Minoru! —Apresentou-se a figura, no entanto, ao invés dele como visitante ter se curvado perante o anfitrião ocorreu o contrário e Minoru foi quem se curvou perante a sua autoridade. — Drago-sama! — Complementou Minoru.

Eu confesso que estava bastante confuso com aquilo. Quem era aquele homem? Drago de Dragão? Não me fazia sentido uma referencia como essa. Com todo respeito, mas ele parecia estar com o pé na cova. Sem falar em Minoru se curvando em seu próprio templo. — Drago-sama? E quem esse senhor pensa que é? Chupou laranja com quem? — Dizia bastante contestado com aquilo. — Cale a boca, idiota. — Corrigia-me Raira, com um peteleco na parte de trás da cabeça. — Para muitos, inclusive nosso mestre, Drago-sama é a maior autoridade de artes marciais de Konohagakure no Sato, o unificador de todos os estilos. — Gaguejei ao descobrir aquilo. — Por favor, mestre, perdoe essas pessoas ignorantes. — Adicionou Minoru em minha defesa. — Hahahahahaha! Que nada, Gostei da autenticidade desse jovem, é disso que precisamos. — Respondeu Drago genuinamente.

Desculpe-me, Drago-sama. — Era a minha vez de mostrar respeito em desculpas a minha impertinência. — Vim discutir sobre a sua aposentadoria, mestre Minoru, e pedir para que adie essa idéia. Estou criando um torneio com todos os mestres de academias para definir aquele que será o meu sucessor e você é um dos que eu pretendo ter como participante. A manutenção da sua academia é muito importante para essa comunidade. — Disse para a nossa surpresa. Nesse instante eu até mesmo abracei minha maior rival, mostrando a harmonia ali existente. — Se fizer isso de novo eu te mato. — Sussurrou ela ao meu ouvido. — Por favor, mestre! Reconsidere. — Apelei.

Após pensar por alguns minutos, a tão aguardada resposta chegou. — Não posso recusar um pedido seu, mestre Drago. Considere atendido o seu pedido. Crianças, a luta está descartada e o cargo mantido. — Um desfecho excelente. Não sendo mais necessária minha presença, despedi-me das pessoas ali presentes e parti, animado com o torneio que estava por vir.  
 
 

Considerações: