Rank D.

Já era manhã. Os raios leves de sol passavam pelas poucas frestas que a cortina branca cobrindo a janela permitia. Enquanto tampava a boca com a mão, soltei o bocejo típico de quem ainda desperta e estiquei meu corpo enquanto me sentava na cama. O silêncio reinava na casa de madeira, o que não era inesperado visto que minha avó geralmente acordava um pouco mais tarde e, bom, minha mãe... Quando ela saia do quarto já era algo a se comemorar. Soprei um leve lufada de vento pelo nariz em um suspiro e balancei a cabeça afastando os pensamentos. Era o início de um novo dia, quanto menos negatividade melhor, certo? Uma risada boba escapou enquanto uma segunda perspectiva em minha cabeça parecia zombar dos pensamentos tolos que rodeavam minha consciência logo cedo. Decidi então não perder mais tempo, finalmente me levantando e iniciando aquela semana.

Após me arrumar como de costume, organizei rapidamente o quarto e parti para a cozinha. Tomei algumas frutas que descansavam em cima de um armário e as cortei, levando um pedaço ou outro à boca enquanto trabalhava. Coloquei-as em uma tigela e levei-as à geladeira; quem sabe hoje ela esteja um pouco melhor. As frutas pelo menos lhe farão algum bem – pensava enquanto fechava a porta do eletrodoméstico quando um canto incomum soou pela janela. Um pássaro. Penas escuras cobriam todo seu corpo e um de seus olhos claros me encarava. Exibia em sua perna esquerda um pergaminho vermelho e a forma como estava imóvel sob a esquadria de maneira solicitava que eu me aproximasse e tomasse o papel e foi o que fiz. Acariciei o topo de sua cabeça com o dedo indicador após libertar a pata do animal e agradeci com um tom suave, o que o fez sair voando. Desenrolei o documento para confirmar o que já suspeitava: era indicação de uma missão.

– Hum... – Murmurei após finalizar a leitura. Era algo simples – esperado para alguém do meu nível. A maioria dos genin provavelmente se incomodariam com algo tão básico, mas... Era o que nos era almejado. A natureza da missão era a única coisa que me fazia pensar um pouco mais. Uma aluna da academia havia escapado da aula por alguma razão. Era imprescindível que encontrasse ela imediatamente e entendesse o contexto de sua fuga. Estariam me indicando à missão por minha facilidade em lidar com os outros ou... Queiram que eu entrasse na mente de uma criança? Uma risada alta soou quando pensei no quão estúpido a segunda opção era. Cruzei a sala de jantar rumo ao meu quarto para pegar minha bolsa com meus equipamentos – e meus doces – e rumar à academia. Antes disso, peguei um pequeno pedaço de papel e deixei um bilhete para minha avó sinalizando as frutas na geladeira. Quem sabe ela conseguisse fazer com que minha mãe comesse alguma coisa. Afastei os pensamentos novamente, dessa vez fechando a porta atrás de mim deixando as preocupações dentro de casa.

Cruzei a aldeia em direção à academia em passos apressados. Cumprimentava aqueles que conhecia, mas minha postura era clara – eu precisava chegar em algum lugar e estava com pressa. Em poucos minutos conseguia chegar até a sala de aula indicada no papel com as descrições da missão. A professora me indicou a descrição física da garota – cabelos escuros, pele clara e olhos castanhos. Ela vestia uma camiseta amarelo bebê e um colete azul-marinho por cima. Uma saia que ia até seus joelhos e botas da mesma cor do colete. Seu nome era Akari e o motivo de sua fuga era um mistério. Ela indicou que eu iniciasse a busca no jardim atrás da academia – era seu local preferido. Sinalizou que tentaria pro si mesmo se não fosse a sala cheia de pestinhas. Soltei uma risada compreensiva e assenti gentilmente.

Foi dito e feito. Mal precisei me aproximar para visualizar os cabelos negros da garota sendo levados pelo vento enquanto ela sentava em um pequeno toco de madeira em frente à algumas flores violeta. Me aproximei sem causar alarde e perguntei calmamente: – Akari? – Ela não respondeu de início. Continuou cabisbaixa e depois de alguns segundos pude ouvir sua voz. – Te mandaram pra me buscar, foi? – Seu tom era tristonho. – Bom... Sim. – Continuei tentando mostrar alguma simpatia. – Mas se quiser me contar o porquê de ter fugido posso tentar te ajudar. Sei que sou só uma genin, mas sabe, pessoas são minha especialidade! – Finalizei me abaixando em sua frente, buscando alcançar a altura de seus olhos. – É que... – Ela não parecia disposta a continuar. – Pode confiar em mim. Eu juro que não vou contar pra ninguém. – Procurei incentivá-la. – É que... Os testes são no final da semana... E eu não vou conseguir passar. Eu sou fraca; não tenho muitas habilidades e, diferentemente de todos os outros alunos, não tenho ninguém para me ajudar a treinar. – Sua voz pareceu embargar no final da frase. Direcionei meu olhar ao chão por um instante sentindo pena, mas logo me voltei para que ela não percebesse. – Você vai conseguir passar. Não existe nada que alguém dedicado não consiga alcançar! – Exclamei com certa animação. – Mas... – Ela tentou questionar. – Sem mas! A partir de hoje nós vamos treinar, depois de suas aulas, todos os dias até seu teste, certo? Mas vou logo te avisando, eu não sou boazinha como a sua professora! – Terminei com uma risada. Os olhos dela já passavam outro sentimento. – Sim, senhora! – Ela levantou com os braços ao lado do corpo com a voz animada. – Meu nome é Sayuri. Yamanaka Sayuri. Te vejo mais tarde, combinado? – Finalizei tirando um pirulito da bolsa presa ao meu corpo e entregando a garota. – Agora volta pra sala e fala pra sua sensei que está tudo bem. – Combinado! - Ela respondeu, tomando o doce de minhas mãos e disparando em direção ao interior da academia.

Me levantei e soltei um leve suspiro em meio a um sorriso. Ah, Sayuri. Você arranja cada encrenca. Bom... No final das contas, vai valer a pena.

Considerações: