[TREINOS]Two distinct worlds are

Two distinct worlds are

HP: 300/300 | CH: 300/300 | ST: 00/03

 



- Você é um desastre, como conseguiu se formar na academia? - o tom de voz de Shiore era frio, seus olhos me fuzilavam com uma expressão de pura desaprovação. 
- Você poderia parar de me usar como alvo e me ensinar alguma coisa já que eu sou tão inútil assim… - me levantei e limpei as palmas das mãos na roupa, confesso que eu estava distraída observando que a minha roupa preta já estava ficando marrom depois de todo aquele treinamento, e por isso, não vi a sandália que voou na minha direção e me atingiu no meio da cara. 

Gritei de dor levando as mãos até a face, Shioria ria debochadamente me lembrando porque ela não era a minha tia preferida. 
- Uma vergonha mesmo, Chie. E ainda tem a ousadia de me responder. - minha face estava quente, sentia o ardor e a raiva se misturarem e olhei para San, que gania ao meu lado como se perguntasse se estava tudo bem. 
- E ainda tem esse Ninken que não sabe falar… francamente. - ela massageou o cenho e eu simplesmente explodi, estava cansada de todas aquelas críticas, de sempre ser julgada, como se eu já não passasse por isso com o restante da família. 
- Não ouse falar da San, deixa ela fora disso. Será que por um único momento você não consegue ficar sem criticar? - eu sentia a alteração física da perda de controle, a respiração irregular, os olhos vermelhos, a vontade de chorar. - Eu to cansada de tanta reclamação, acha que eu faço isso de propósito? -  

Shiore mudou de expressão, seus olhos me fitaram com frieza e ela deu alguns passos na minha direção. - Você acha que é especial, Chie? Que pode simplesmente gritar para que parem de te criticar e o mundo fará isso? Você tem duas opções, ou desiste e admite que não tem talento para ser shinobi, sai do círculo e vai viver como uma pessoa comum, ou deixa de ser mole, e usa essas críticas como sua força. - com um movimento rápido Shiore sacou uma kunai e arremessou para o topo de uma árvore.-  Você tem até o cair da noite para pegar a kunai ou está fora do Círculo. -

Observei Shiore dando as costas e saindo, me joguei no chão novamente e sorri para San que havia sentada ao meu lado. - O que você acha? Sair do círculo resolveria 80% dos meus problemas… - a ninken latiu como se desaprovasse. - Eu sei… eu sei… esse é o grande problema, ela tá certa. - San acenou e se colocou em pé, puxando minha bota para que eu fizesse o mesmo. 
- Tá bom, entendi. Vamos fazer isso então. - minha tia estava certa sobre ganhar as coisas no grito, aquilo não ajudava, eu sempre quis ser uma shinobi e mostrar que eu posso ser tão boa quanto eles, então o único jeito é treinar. 

Caminhei até próximo da árvore onde Shiore havia arremessado a kunai e parei há poucos passos de distância, olhei para cima tentando adivinhar quantos metros aquela árvore tinha, 10m? 15m? Não sou boa com medidas, mas posso garantir que ela é alta demais para subir apenas saltando. 

Comecei a me lembrar dos ensinamentos do sensei durante a academia, o que ele havia explicado sobre o chakra e como ele flui em nosso corpo, de acordo ele, meu maior problema para controle do chakra era a inquietação da minha mente e a incapacidade de me acalmar. Senti uma brisa leve e decidi que iria pelo começo. 

Me sentei no chão e San fez o mesmo de frente para mim. Cruzei as pernas em posição de lótus e respirei fundo, fechando os olhos. 
- O chakra é criado a partir da energia física em cada célula do corpo e da energia mental - lembrei - Você não pode apenas querer bater em tudo, Chie, mesmo nos piores momentos, você precisa manter a calma. - a frase do sensei veio a mente, ele sempre reclamava comigo por, de acordo ele, perder o controle muito rápido. 

Respirei fundo e busquei me acalmar, os pensamentos surgiam como em uma cascata, mas pouco a pouco, conforme a respiração regularizava, os pensamentos iam diminuindo. Senti o chakra em meu corpo e ele se espalhava através dos canais de chakra, todo o meu corpo parecia começar a vibrar, primeiro, a sensação era única em cada membro, em seguida, se espalhava para o corpo como um todo. 

Não sei ao certo quanto tempo se passou, mas ao abrir os olhos eu me sentia pronta para aquilo, talvez me acalmar fosse realmente o melhor a se fazer. Tomei distância da árvore, concentrei meu chakra na sola dos pés e corri. Um, dois, três passos na árvore antes de cair de bunda no chão. Meu chakra estava fraco demais. 

Respirei fundo, tomei distância, concentrei o chakra na sola dos pés e corri novamente. 4 passos antes de cair. -  Dizem que a terceira da sorte. - falei para San que ainda parecia nutrir algum tipo de esperança. Me afastei novamente, respirei fundo, senti o chakra na sola dos meus pés e me concentrei na sensação por algum tempo. -  Agora vai… - falei para San ao abrir os olhos e correr na direção da árvore. No segundo passo o tronco cedeu parcialmente, deixando uma marca na casca e me projetando para longe.

Dessa vez foi mais fácil controlar a queda, flexionei os joelhos e não tive uma queda tão humilhante como das últimas vezes. -  Que inferno - gritei ao me levantar e chutar o ar. -  Eu sou mesmo uma inútil ou essa técnica que me passaram é impossível. - reclamei, mesmo sem ter ninguém ali para me ouvir, eu estava irritada, a paciência havia desaparecido e tudo o que eu queria era ir embora para tomar um banho e dormir. 

O sol pouco a pouco ia se escondendo, já estava ficando escuro quando San se aproximou e pediu por carinho, me lembrei que eu não fazia aquilo apenas por mim. Me afastei novamente da árvore e fechei os olhos, senti o fluxo de chakra passar pelo meu corpo e me concentrei a sensação na sola dos pés. Nesse momento, lembrei da minha tia, das coisas que ela havia falado, da forma como todos tratavam a San e a mim, pensei na árvore, naquela maldita árvore alta demais pro meu gosto, e imaginei como seria caminhar sobre ela, senti o peso do meu corpo sobre o solo e corri. 

Senti cada passo dado naquele percurso, a sensação do chakra na sola dos pés, a sensação dos meus pés ao pisar no tronco da árvore, a força para continuar subindo e mantendo o corpo na postura correta. 

Quando dei por mim, os galhos da árvore já passavam em meu rosto e eu estava na parte mais alta da árvore. Peguei a kunai e a girei entre os dedos, ouvindo a voz de Shiore ao se aproximar. - Desça, vamos jantar - ela deu as costas e me deixou com mais um problema. Descer aquela árvore que parecia ser ainda maior do que vista de baixo. 

Considerações: